Período de isolamento
é suficiente,
mas requer cuidados
Médicos ensinam a
evitar risco de contaminar outras pessoas em casa
Publicado em 24/03/2020 - 19:01
Por Pedro Peduzzi - Repórter da Agência Brasil - Brasília
O isolamento por 14
dias é, em geral, suficiente para garantir que alguém que tenha sido infectado
pelo novo coronavírus não contamine pessoas próximas. A garantia fica ainda
maior quando embasada por exames laboratoriais, explicam especialistas
consultados pela Agência Brasil. Eles, no entanto, alertam para
cuidados que se deve ter nos casos em que o doente isolado mora com
outras pessoas e, principalmente, quando entre eles há um idoso.
“O prazo de 14 dias
corresponde ao tempo de transmissão do vírus”, explica a presidente da
Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Heloísa Ravagnani. Segundo a
médica, após esse período, o paciente pode voltar às atividades normais. “A
princípio, sem restrições, desde que esteja se sentindo bem, sem sintomas e com
os exames voltando à normalidade.”
De acordo com
Heloísa, as pessoas costumam confundir quarentena com isolamento. Enquanto a
primeira medida é determinada pelo governo, estabelecendo um prazo necessário
para que todos fiquem afastados socialmente de forma a evitar a disseminação do
vírus, o isolamento é diferente, por ser voltado a pessoas com suspeitas ou que,
de fato, estejam contaminadas.
“No caso da
quarentena, as pessoas só saem de casa para fazer coisas de extrema
necessidade, como ir à farmácia, à padaria, ao mercado. Obviamente sob a
condição de que não façam disso um evento social. Já os cuidados da pessoa em
isolamento são diferentes, pela suspeita de doença”, disse a infectologista
à Agência Brasil.
Cuidados durante
isolamento
A médica diz que o
ideal é que a pessoa fique sozinha em um cômodo, de preferência em um quarto
com banheiro. Ela fica dentro desse ambiente, a princípio sem máscara, mas
tendo de higienizar com álcool todos os objetos de que fizer uso frequente.
Caso o banheiro
seja de uso comum, é importante que a pessoa sob isolamento seja a última a
usá-lo e que, sempre após o uso, higienize-o com álcool 70% ou hipoclorito em
todos os locais tocados. “E todas vezes que sair do quarto e tiver contato com
outras pessoas na casa, tem de usar máscara para evitar a
transmissão.Os objetos que serão descartados – caso dos lenços, por
exemplo – devem ser fechados em sacos para depois serem juntados ao lixo da
família e, enfim, recolhidos pelos serviços de limpeza.
Heloísa acrescenta
que o doente não pode dividir talher, copo ou prato com outras pessoas. “É
importante que a pessoa troque a própria roupa de cama, que tem de ser colocada
em saco plástico para levar e ser lavada em separado”, explica Heloísa.
Membro da Sociedade
Brasileira de Infectologista, José David Urbaez Brito diz ser também
indicado que a limpeza do quarto seja feita pelo próprio paciente isolado. Já a
higiene das mãos deve ser feita com água e sabão, por pelo menos 1 minuto; ou
com álcool gel 70%, por 20 ou 30 segundos.
“Quanto
à alimentação, o fornecimento tem de ser feito de forma a não
possibilitar o contato com o paciente. Se não tiver outro jeito,
quem for cuidar do paciente tem de usar máscara cirúrgica, se manter
a 2 metros do paciente, e usar avental impermeável”, disse o médico.
Famílias grandes em
casas pequenas
A maior
preocupação, segundo os dois especialistas, é com os idosos. Principalmente
quando a família mora em casas ou apartamentos de pequenos cômodos. “É comum
famílias morando em um ou dois cômodos, e em um ambiente muito pequeno não tem
jeito: as pessoas vão acabar sendo expostas ao vírus. A começar pelo fato de
ser importante que se tenha um colchão específico para a pessoa com a
covid-19”, explica Heloísa Ravagnani.
A presidente da
Sociedade de Infectologia do Distrito Federal diz que nessas situações os
cuidados devem ser ainda maiores. “Como vive muito próxima a outros, a
pessoa ter de usar a máscara todo o tempo. O problema é que a máscara
deve ser trocada depois de ficar úmida ou a cada duas horas.”
Idosos
Brito alerta que,
no caso dos idosos, é de extrema importância o isolamento total. “Não
pode ter contato com ninguém, e essa é a grande angústia quando se
tem, entre os familiares que vivem na mesma casa, uma pessoa contaminada.”
Ele aponta como
solução as autoridades adotarem medidas que viabilizem outros locais onde o
idoso possa permanecer enquanto algum dos entes com quem mora estiver em
situação de isolamento.
Uma das
possibilidades sugeridas por ele é aproveitar a baixa movimentação de hotéis e
albergues para disponibilizá-los a idosos que moram com pessoas infectadas ou
com suspeita de contaminação.
Edição: Nádia Franco / Liliane Farias