As pequenas conquistas
dos homossexuais no Uganda
Hostilidade,
perseguição e prisão fazem parte do cotidiano dos homossexuais no Uganda. Mas,
cada vez mais pessoas lutam contra os preconceitos e a discriminação. Há
grandes problemas, mas também pequenos sucessos.
Numa pensão no subúrbio
de Kampala, um jovem desenrola um tapete com as cores do arco-íris - símbolo do
movimento gay e lésbico. Os homossexuais preparam um desfile para celebrar a
diversidade em África, na capital do Uganda.
O Uganda tem uma das
leis mais hostis do mundo em relação aos homossexuais, por isso, o que eles
fazem aqui, pode colocá-los na cadeia.
Temeroso, o voluntário
quer permanecer anónimo. "Você pode tentar se proteger tanto quanto você
quiser. Você nunca sabe o que alguém está dizendo à mídia ou o que poderia
talvez postar no Facebook," afirma.
Linha dura para os
homossexuais
Entre os que não devem
ter notícias sobre os preparativos do chamado Orgulho Gay está a parlamentar
ugandesa Christine Abia. Atualmente, até 14 anos de prisão já ameaçam os
homossexuais no Uganda. Há alguns anos, o Parlamento debate as possibilidades
de agravar ainda mais as penas. Alguns exigem até mesmo a pena de morte.
A este respeito,
Christina Abia adota uma postura de linha dura. Ela compara os homossexuais aos
animais: "Até mesmo os animais, bestas, não se degeneraram tanto! Como é
possível que pessoas com consciência então desorientem a si mesmas
fisiologicamente?".
A sexualidade como um
direito humano? Para a parlamentar, isso não existe. "Se pretende que isso
seja um direito humano. Não! Pelo amor de Deus, isso é um erro humano,"
considera.
Difícil imaginar, mas
Christine Abia fez seu nome como vigorosa defensora dos direitos das mulheres
perante representantes de muitas organizações ocidentais. Seus pontos de vista
sobre os homossexuais não se encaixam nessa imagem de ativista dos direitos
humanos.
"A única coisa que
se pode fazer com os homossexuais é jogá-los na água e deixar que bons peixes
os comam," conclui a parlamentar.
Retaliações constantes
Richard Lusimbo, de 27
anos, é um dos que Christine Abia quer jogar como alimento aos peixes. O jovem
ugandês pertence ao comitée que prepara o Orgulho Gay. Há dois anos, ele
assumiu a sua homossexualidade. Desde então, teve que se mudar várias vezes -
por causa de ameaças constantes.
Enquanto lava as louças
em seu novo pequeno apartamento nos arredores de Kampala, o jovem revela seus
planos para construir uma nova vida. Ele se pergunta: "O que aconteceu?
Não sou diferente, mas porque as pessoas me tratariam de forma diferente agora
ou pensariam que sou diferente, só porque agora sabem que eu sou gay? Isso
realmente dói muito."
A homossexualidade
ainda é um tabu no Uganda e o jovem acha difícil uma mudança de hábitos a curto
prazo. "No Uganda, fala-se sobre sexo a portas fechadas. Essa é a diferença
com o Ocidente onde você pode se manifestar nas ruas. É muito difícil fazer
isso aqui," garante.
Mesmo assim, Richard se
empenha na preparação do Orgulho Gay. O ponto mais alto será um desfile na
praia de Entebbe, a cerca de 40 quilómetros de Kampala. Até recentemente, o
especialista em computadores não teria coragem de ir às ruas lutar por seus
direitos. Dois anos atrás, David Kato, um conhecido ativista gay foi
assassinado em Kampala.
Jornalismo anti-gay
No início deste ano,
também Richard teve que se esconder depois que um jornal publicou um artigo
incitando os leitores contra ele. Entre as informações divulgadas estão o
endereço de sua casa e os locais de estudo e trabalho de Richard.
"Então foi
ameaçador, porque com seu endereço publicado, você não sabe o que pode te
acontecer. Foi realmente assustador. Por isso, tive que ir embora," revela
o ativista.
Repetidamente os
tablóides no Uganda difamam lésbicas e gays, publicam até mesmo seus endereços.
O radialista Charles Odongtho é um dos poucos apresentadores que já entrevistou
um homossexual em seu programa - o que lhe trouxe enormes problemas.
Mas ele não é um
defensor dos direitos dos homossexuais. Charles Odengtho acredita que por trás
do movimento de gays e lésbicas no Uganda estão, com frequência, interesses
muito diferentes.
"Acho que alguns
ugandeses usam a homossexualidade para conseguir um visto para sair do país.
Talvez eles acreditem que se forem para os Estados Unidos ou para a Europa
terão melhores oportunidades," declara o radialista.
O argumento de que os
homossexuais desejam benefícios financeiros ou asilo no estrangeiro, Richard
Lusimbo já não quer ouvir. Apesar de todos os problemas, ele mesmo nunca pensou
em deixar o Uganda.
Pequenos passos de uma
longa jornada
Na manhã seguinte, os
ativistas encontram-se no Teatro Nacional, em Kampala, e partem de ônibus para
a praia de Entebbe onde terá início o desfile.
No embarque, as
pulseiras dos participantes são minuciosamente controladas - por razões de
segurança. No passado, muitos ativistas foram agredidos e abusados por grupos
enfurecidos - alguns chegaram a ser presos. Isso ninguém quer experimentar
novamente.
Na chegada a Entebbe,
finalmente encontram-se com Richard Lusimbo que se atrasou porque teve uma
conversa com o chefe da polícia local. Este insistiu para que o desfile do
Orgulho Gay passe longe de ruas movimentadas. Caso contrário, eles seriam
presos. Foi preciso pagar subornos? Richard prefere não comentar.
Por muito tempo os
ativistas esperavam por este momento. No ano passado, a polícia pôs fim ao
desfile do Orgulho Gay antes mesmo que ele começasse. Este ano, gays, lésbicas
e transexuais marcharam sem perturbações, por meia hora, pela praia de Entebbe.
Eles dançaram e balançaram bandeiras e balões coloridos.
Richard já sonha com um
outro Uganda. Uma sociedade livre na qual gays, lésbicas e todos os outros
possam viver juntos pacificamente.
Mesmo que ainda haja um
longo caminho a percorrer, os ativistas acreditam estar um pouco mais perto da
convivência com tolerância. E talvez marcharão não na isolada praia de Entebbe,
mas pelo centro de Kampala.
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