Mulheres
voltam a protestar em São Paulo contra o estupro
- 08/06/2016 18h33
- São Paulo
Elaine
Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil
Centenas de mulheres estão
reunidas neste momento no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na
Avenida Paulista, em São Paulo, para mais um protesto contra o estupro. Chamado
de Por Todas Elas, o segundo ato contra o estupro foi convocado pelas redes
sociais e ocorre em diversas cidades do país, lembrando o caso da adolescente
de 16 anos que sofreu estupro coletivo no Rio de Janeiro.
A intenção das mulheres é sair em
caminhada, provavelmente até a Praça Roosevelt, no centro da cidade.
A cientista social Paula
Kaufmann, 24 anos, que faz parte do coletivo Juntas, um dos movimentos
organizadores do ato, disse que a manifestação de hoje é em solidariedade à
vítima do estupro coletivo no Rio de Janeiro.
“A ideia desse ato é tanto
prestar solidariedade a ela quanto denunciar esse tipo de caso e como existe
negligência do Poder Público em tratar a questão da violência contra a mulher
com políticas públicas. É preciso pensar em uma maneira de extinguir esse
problema, seja por meio da educação, inserindo a educação de gênero e contra a
violência nas escolas, ou de acolhimento das mulheres vítimas de violência, mas
também de punição desses criminosos que praticaram estupro”, acrescentou Paula.
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Além de várias faixas criticando
o machismo e o estupro, as mulheres trouxeram um varal com várias roupas
femininas penduradas, todas manchadas de sangue. Muitas delas pintaram o rosto
com o símbolo feminino. De mãos dadas, elas também fizeram um imenso círculo no
vão livre. Em círculo, elas cantaram: “Companheira me ajude, que eu não posso
andar só. Eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor.”
Algumas decidiram tapar a boca
com a mensagem O Silêncio Mata. Foi o caso da administradora de mídias sociais
Larissa Bortoloso, 25 anos. Larissa foi molestada quando era criança e contou
que, na época, a família tentou manter o caso em silêncio.
“Fui silenciada quando aconteceu
comigo, aos 12 anos. Isso, de uma forma, quase me matou, porque tentei me
suicidar. Várias mulheres que são violentadas ou estupradas também não falam,
não denunciam e acabam morrendo. Me enterraram várias vezes”, afirmou.
Larissa perdeu os pais quando
tinha 8 anos e foi morar com uma de suas irmãs. “O cunhado dela me molestava
enquanto eu dormia. Quando tive coragem de contar, eles levaram uns líderes
religiosos em minha casa, fizeram esse pacto e encobriram. Eu não podia contar
para ninguém.”
Agora, quando consegue falar
sobre o caso, Larissa aconselha as demais mulheres que sofreram violência a não
manter o silêncio e denunciar o caso às autoridades competentes. “É preciso ter
cuidado em quem vocês vão confiar e fazer um escândalo, sair na rua gritando
que você foi estuprada. Porque se você não fizer um escândalo, ninguém vai
ajudá-la.”
Além do estupro, as mulheres
denunciam outras formas de violência. Um grupo de mulheres que trouxeram seus
filhos ao ato, por exemplo, denunciou a violência obstétrica. Foi o caso de Mayra
Simon, 22 anos, mãe de Antonela.
“Acho importante trazê-la porque
ela é mulher e vai entender algum dia porque estamos aqui. Ela vai sofrer
machismo também na pele e achei importante trazê-la. A maior violência que
sofri foi no nascimento dela. Fui tratada como um animal em uma cela. Me
induziram ao parto normal, que eu tanto queria, mas forçaram com medicação.
Fiquei 13 horas sozinha no pré-parto. Não pude ficar com meu marido. Não pude
pegá-la no colo quando ela nasceu. Fui levada para a cesárea, porque, com
certeza, a indução não deu certo porque não era indicada. Fui cortada ao meio.
Não pude amamentar minha filha nas primeiras 12 horas de vida. Isso foi o maior
trauma de minha vida”, concluiu Mayra.
Edição: Armando
Cardoso
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