Em
depoimento, policiais admitem que mentiram e forjaram confronto com vítima
- 13/03/2017 19h42
- São Paulo
Elaine
Patricia Cruz - Repórter da Agência Brasil
Durante júri popular, dois dos
três policiais acusados pela morte de Paulo Henrique Porto de Oliveira, morto
no dia 7 de setembro de 2015, na região do Butantã, na zona oeste da capital
paulista, admitiram hoje (13) ter mentido em depoimentos anteriores e que
"plantaram" uma arma perto da vítima para forjar um confronto.
O policial Tyson Oliveira
Bastiane, de 28 anos, começou a ser ouvido por volta das 17h, logo após o
depoimento de três testemunhas de defesa, uma delas ouvida de forma privada.
Durante seu testemunho, Bastiane admitiu ter efetuado dois disparos contra a
vítima, que estava rendida e desarmada. Segundo Bastiane, ele atirou contra a
vítima porque ela teria tentado pegar sua arma.
Bastiane também admitiu ter
mentido nos depoimentos anteriores dados a investigadores do caso, quando disse
que houve confronto e que Paulo teria atirado contra eles. Indagado porque
mentiu sobre isso, Bastiane disse que o fez “por desespero” e por
desconhecimento jurídico.
Já Silvano Clayton dos Reis, que
patrulhava com Bastiane no dia do crime, admitiu no depoimento que forjou o
confronto, retirando uma arma da viatura policial em que estava e colocando-a
perto do corpo de Paulo.
Silvio André Conceição, último
policial a ser ouvido, foi o primeiro a chegar ao local do crime. Nas imagens
de câmeras de segurança, ele aparece algemando Paulo e, mais tarde, quando os
policiais Bastiane e Reis chegam ao local em uma viatura, ele aparece retirando
as algemas de Paulo. Após ter as algemas retiradas, Paulo é morto por Bastiane.
Versões
Nas primeiras versões dadas a
investigadores do caso, Bastiane e Reis disseram que atiraram em confronto,
após Paulo ter disparado contra eles. No entanto, imagens de câmera de
segurança mostraram que Paulo se entregou e que estava desarmado no momento em
que foi baleado por Bastiane. As imagens mostram ainda que Paulo, antes da
chegada de Reis e Bastiane ao local do crime, chegou a ser algemado pelo
policial Silvio André Conceição. Mas quando Reis e Bastiane chegaram, ele foi
desarmado e então levado para um muro, onde foi baleado e morto.
As imagens não mostram o momento
em que Paulo foi baleado. Os réus dizem que, nesse momento, Paulo tentou tirar
a arma de Bastiane, que atirou nele, em desespero.
O crime
Paulo estava com Fernando
Henrique da Silva, de 23 anos, e foram mortos após roubar uma moto e tentar
fugir dos policiais. Imagens feitas pelo celular de uma testemunha mostraram um
policial jogando Fernando de um telhado. Já uma câmera de segurança mostrou
Paulo se entregando, desarmado e sendo colocado contra um muro, fora do alcance
da câmera, momento em que foi morto. O vídeo mostra ainda um dos policias
pegando uma arma na viatura para forjar um confronto e justificar a morte do
suspeito.
Hoje estão sendo julgados apenas
os policiais responsáveis pela morte de Paulo. O julgamento do assassinato de
Fernando foi marcado para o dia 27 deste mês.
Os três policiais que respondem
pela morte de Paulo são acusados de homicídio doloso qualificado (com intenção
de matar e por meio cruel, sem possibilidade de defesa da vítima), fraude
processual, falsidade ideológica e porte ilegal de arma.
Testemunhas
Uma testemunha de acusação e três
de defesa foram ouvidas na tarde desta segunda-feira. A testemunha de acusação,
Marco Aurélio Barberato Genghini, responsável pela investigação do caso na
Corregedoria da Polícia, disse que os réus mentiram em depoimento e que mataram
a vítima já rendida e desarmada.
Uma das testemunhas de defesa
disse que foi salva por Reis durante um sequestro relâmpago em 2015. O
testemunho dela fez Reis chorar muito e também arrancou lágrimas de várias
pessoas da plateia. No entanto, não comoveu os jurados.
Duas mulheres e cinco homens compõem
o júri popular que vai decidir se absolve, ou condena, os três policiais. A
decisão dos jurados só será conhecida após o depoimento das testemunhas de
acusação e de defesa, o interrogatório dos três réus e os debates do promotor
responsável pela acusação e dos advogados de defesa. Como hoje foram ouvidas as
testemunhas e os réus, a previsão é que fiquem para amanhã os debates e,
possivelmente, a decisão dos jurados.
Edição: Fábio
Massalli
Sem comentários:
Enviar um comentário